No fervor de sua caridade sentiu-se inspirado a imitar o triunfo glorioso dos mártires nos quais o fogo da caridade não se extinguia nem se quebrantava a coragem. Inflamado por esse perfeito amor que expulsa o temor, suspirava por se oferecer como hóstia viva a Deus imolada pela espada do martírio; dessa forma ele passaria a Cristo a morte que ele aceitaria por nós e levaria os homens ao amor de Deus. No sexto ano depois de sua conversão, ardendo de desejo de martírio, resolveu ir à Síria pregar a fé cristã e a penitência aos sarracenos e a outros infiéis. Mas o navio que o conduzia foi arrastado pelos ventos contrários para as costas da Eslavônia. Aí ficou algum tempo sem encontrar navio com destino ao Oriente. Entendeu que lhe era recusado o que desejava. E como alguns marinheiros se preparavam para ir à Ancona, pediu para embarcar por amor de Deus. Mas como não tivessem com que pagar, os marinheiros nem quiseram ouvi-lo e o homem de Deus, entregando-se inteiramente nas mãos de Deus, introduziu-se sub-repticiamente no navio com seu companheiro. Entretanto, um homem certamente enviado por Deus para socorrer o pobre Francisco chegou trazendo víveres, chamou um os marujos, homem temente a Deus, e lhe disse: “Guarda com todo cuidado estas provisões para os pobres Irmãos que estão escondidos no navio; tem a bondade de lhes entregar de minha parte quando tiverem necessidade”. Os ventos sopravam com tal violência que os dias passaram sem que fosse possível abicar em parte alguma; os marujos estavam no fim das provisões; sobravam apenas as esmolas graciosamente oferecidas pelo céu ao pobre Francisco. Eram muito modestas, mas o poder de Deus as multiplicou de tal forma e em tanta quantidade que, apesar do atraso ocasionado pela tempestade que continuava a castigar duramente, elas satisfizeram totalmente às necessidades de todos até Ancona. E os marujos, vendo afastado o perigo de morte de que os livrara o servo de Deus, deram graças ao Altíssimo onipotente, que sempre se mostra admirável e amável nos seus amigos e servos. E com muito acerto, pois haviam enfrentado de perto os tremendos perigos do mar e visto as admiráveis obras de Deus nas águas profundas.
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